Debate entre presidenciáveis pode decidir as eleições, dizem especialistas

Dório Ewbank Victor
RIO - Às vésperas do primeiro debate entre os presidenciáveis, que será no próximo dia 5 na Band, os candidatos José Serra (PSDB), Marina Silva (PV) e Dilma Rousseff (PT) se preparam para responder às perguntas dos jornalistas e adversários. A petista ficará dois dias em seu comitê, em Brasília, para treinar indagações e respostas com seus assessores, segundo informou sua assessoria de imprensa.
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Já Serra não quis revelar qual será sua estratégia para o evento. O que se sabe, no entanto, é que sua equipe de comunicação - com cerca de 300 profissionais - alugou um imóvel na zona oeste de São Paulo, com três estúdios para produzir os programas de rádio e TV, além de preparar o candidato para os enfrentamentos nos debates.
Marina Silva (PV), a exemplo de Dilma, também passará dois dias com seus assessores antes de enfrentar cara a cara seus adversários. Mas ainda não tem um lugar definido. Segundo sua assessoria de imprensa, a equipe da campanha procura um local que seja parecido com o estúdio onde será realizado o evento.
Debate pode acabar com empate técnicoComo as pesquisas eleitorais mostram uma paridade entre o tucano e a petista, os debates são apontados pelos especialistas como a prova de fogo das eleições deste ano.
- O debate pode ser decisivo quando os candidatos estão equiparados nas pesquisas. Temos casos clássicos como nas eleições americanas entre Nixon e Kennedy, definido no último debate por Kennedy, e de Lula e Collor, quando Collor divulgou que o Lula teve uma filha com uma namorada, fato que não havia sido noticiado ainda e que o prejudicou na eleição daquele ano. O debate é decisivo, e também pode ser arriscado - explicou o coordenador do programa de pós-graduação em Ciências Políticas da Universidade Federal Fluminense (UFF), Eurico Figueiredo.
Para o debate na Band, quatro candidatos já confirmaram presença: além de Dilma e Serra, também participarão Marina Silva (PV) e Plínio de Arruda Sampaio (PSOL). Outros debates também estão marcados, entre eles o da TV Gazeta, em parceria com o jornal O Estado de S. Paulo, da RedeTV, TV Record e TV Globo.
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Figueiredo explica que o debate não influencia significativamente no crescimento do eleitorado dos candidatos, mas como há um empate técnico no cenário eleitoral dos presidenciáveis, qualquer percentual a mais pode ser decisivo na disputa.
- É muito relativa a importância (dos debates), pode diminuir o eleitorado, mas não serve para alterar o cenário. Mas no caso Serra-Dilma, a diferença entre os dois é muito pequena. A vitória nas eleições pode vir de como eles se comportarão ao responderem às perguntas e provocações - disse.
Segundo o cientista político Luiz Werneck Vianna, o debate é a oportunidade de vermos realmente quem são os candidatos. - É quando o eleitor sente o pulso dos candidatos, especialmente quando há o contraditório. O eleitor fica muito bem informado sobre a capacidade do candidato de reagir a eventuais provocações. É uma forma de ver o candidato a fogo, e não a frio.
- O debate pode ser decisivo porque pode influenciar os indecisos. É melhor do que a propaganda eleitoral gratuita porque o candidato tem que lidar com situações imprevisíveis, que acabam mostrando melhor quem realmente ele é. Além disso, tem um elemento comparativo, principalmente quando o debate não tem muitos candidatos. É o momento mais emocionante da campanha - ressalta Ricardo Ismael, professor do Departamento de Sociologia e Política da PUC-RJ.
Política externa e crescimento econômico podem divergir candidatosWerneck Vianna ressaltou que alguns temas, fora os comuns como educação e saúde, podem definir o candidato mais preparado para assumir o governo do país:
- A política externa pode aparecer como um divisor de águas, porque é uma questão pendente, há controvérsias entre os candidatos. Quanto à segurança e educação, existe um consenso básico entre os candidatos. A questão do crescimento econômico também pode gerar alguma controvérsia. Serra é mais crítico, e a Dilma é a mais defensora dessas políticas atuais.
Serra pode levar vantagem sobre Dilma em debate, diz especialistaPor causa da experiência em debates em outros processos eleitorais, os especialistas acham que Serra pode levar vantagem sobre sua principal adversária, Dilma Rousseff.
- Serra conta com mais experiência que Dilma, tem currículo político maior que o dela, já exerceu vários cargos públicos e já foi candidato à Presidência. Ele tem mais familiaridade com os meios de comunicação de massa do que a candidata do PT - disse Eurico Figueiredo, ressaltando que "Serra deve evitar atingir Lula, e sim a candidata, e, ao mesmo tempo, com cuidados suficiente para não ligar a candidata ao presidente, já que ele (Lula) tem mais de 70% de aceitação popular".
Ricardo Ismael concorda com a vantagem de Serra, mas acha que Dilma tem capacidade de se preparar para debater frente a frente com o candidato tucano:
- Dilma sempre foi a primeira da classe. Ela vai tentar engessar as regras do debate para evitar ficar exposta em um confronto direto. Eles (Serra e Marina) provavelmente estão acostumados a conflitos dentro do parlamento, mas ela é uma grande "gerente", sempre foi uma gerente que dá ordens para todos obedecerem. Capacidade ela tem, isso é fato.

Fonte: O Globo

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