Aids circula há 30 anos na PB, cresce entre jovens e piora com desinformação

Em 2014, foram 520 nos casos de Aids registrados na Paraíba, segundo dados da SES, e desses novos portadores, 140 estavam em idade entre 15 a 29 anos

Teste rápido detecta vírus da Aids em 30 minutosFoto cedida pelo Clementino Fraga

A desinformação ainda é a maior ameaça para se contrair a Aids. Jovens, com faixa etária entre 15 e 29 anos, são hoje as maiores vítimas. Mesmo 30 anos depois do primeiro caso da doença registrado na Paraíba, as recomendações continuam as mesmas.

"Corpo sarado de academia e aparência externa não definem quem tem ou não a doença. Por isso usem sempre camisinha em todas as relação sexuais", é a recomendação enfática da Gerente Operacional de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST)/Aids da Secretaria Estadual de Saúde (SES), Ivoneide Lucena.

Ela disse que desde 1985, ano do primeiro diagnóstico da doença na Paraíba, foram notificados 6. 248 casos. Nos dez primeiros anos, foram notificados uma média de 56 novos casos por ano. Mas, de 2005 a 2015, a média pulou para 375 novos casos a cada ano.

Em 2014, foram 520 nos casos de Aids registrados na Paraíba. Segundo dados da SES, desses novos portadores, 140 estavam em idade entre 15 a 29 anos. Um aumento de 38,6% no número de casos entre jovens se comparado aos dados do ano anterior, 2013, que registrou 101 jovens contaminados entre os 329 novos casos.

Mudança de vida

A notícia de que são soropositivos muda completamente a vida de quem contraiu Aids. Como é o caso de Reinaldo*, de 26 anos. Ele é natural do município de Areia, no Brejo paraibano e soube que estava com aids depois que contraiu uma tuberculose.

"Cheguei ao Clementino Fraga (hospital referência no tratamento da doença na Paraíba, em João Pessoa) com sintomas de tuberculose, mas, depois que fizeram um teste rápido para HIV, deu positivo. No início confesso que fiquei descontrolado, fora de mim, pois não sabia como iria contar aos familiares", relatou.

Reinaldo* contou que era dependente químico e que o compartilhamento de seringas pode ter sido o motivo da contaminação. "As drogas estavam me consumindo. Ao certo, eu não sei como peguei o vírus".

Ele disse que para deixar as drogas e se dedicar ao tratamento foi difícil, mas conseguiu se acostumar com a situação. "Eu caí na real". Somente a mãe do jovem saberia sobre a doença e ele diz que está respondendo bem ao tratamento.

"Sigo as orientações corretamente, tomando a medicação. Comecei a me tratar no Rio de Janeiro, mas foi aqui que encontrei a atenção que precisava para continuar a minha luta pela vida".

A vida de Diógenes*, de 44 anos, também mudou depois que descobriu, quando ainda jovem, que estava com Aids. Ele é natural do município de Catolé do Rocha, no Sertão da Paraíba, mas disse que descobriu que estava com aids em São Paulo.

"Recebi a notícia que estava com o HIV e comecei meu tratamento no Hospital Emílio Ribas. Decidi voltar para à Paraíba e retomei meu tratamento aqui, no hospital Clementino Fraga", contou.

Diógenes* disse que teve o apoio da família e de amigos. "Tentei agir com normalidade e naturalidade, ao mesmo tempo que com consciência de que teria que tomar a medicação e viver uma vida com mais cuidados, a partir de então", contou.

Ele contou ainda que hoje já consegue viver de forma quase normal, mas as mudanças são grandes e a força de vontade e amor à vida superam tudo. "Sigo à risca o tratamento, tomando os medicamentos. Hoje posso dizer que estou bem". relatou.

Discussão em pauta

A preocupação com o aumento da Aids entre os jovens estará entre as discussões do Congresso Brasileiro sobre Aids e Hepatite que acontece de 17 a 20 de novembro deste ano. O evento acontece no Cento de Convenções de João Pessoa, no Altiplano, e será aberto a estudantes, profissionais e toda a população.

De acordo com Ivoneide Lucena, Gerente Operacional de DST/Aids da Secretaria Estadual de Saúde, as inscrições começam no dia 1º de agosto e serão gratuitas. "A expectativa é de que reunamos cerca de 4 mil pessoas e estamos convidando, principalmente, os jovens, porque a informação é a grande ferramenta para a prevenção", reforçou.

Na opinião de Ivoneide, a participação das escolas e instituições que trabalham com a juventude será muito importante. "A conscientização ainda é a melhor maneira de prevenir e evitar que nossos jovens passem por situações de vulnerabilidade, evitando assim de se contrair o vírus da Aids".

Teste rápido

Uma ferramenta vem ajudando para que os diagnósticos de Aids sejam conhecidos de forma mais rápida. Um novo teste que dá o resultado em 30 minutos já funciona em 95% dos municípios paraibanos.

O novo equipamento está disponível em centros de saúde, maternidades, Centros de Testagem e Aconselhamento e nos serviços de atenção especializada. Ele é feito gratuitamente. Para isso, basta procurar o serviço de saúde que dispõe do teste rápido mais próximo de casa. Além da aids, o teste pode diagnosticar também sífilis e as hepatites B e C.

De acordo com a Secretaria de Saúde do Estado, os Centros de Testagem e Aconselhamentos estão implantados nos municípios de João Pessoa, Campina Grande e Pombal. Já os Serviços de Atenção Especializada estão disponíveis no Complexo Hospitalar Clementino Fraga, em João Pessoa, e ainda em Santa Rita, Cabedelo (região metropolitana) e Patos (Sertão).

Prevenção e tratamento

Conhecer as formas de contaminação ainda é a melhor maneira de prevenir. Saber como se pega e como não se pega Aids e aplicar as práticas de auto cuidado, como o uso de preservativos em todas as relações sexuais e de seringas descartáveis, são as recomendações da Gerência Operacional das DST/Aids da SES.

Para a prática sexual anal é importante que seja utilizado o gel lubrificante, além do preservativo. Ele ajuda a reduzir o contato da pele e consequentemente a reduzir a possibilidade de contrair as DST e Aids.

Outra recomendação é fazer o teste constantemente. Uma vez detectado o vírus HIV, que provoca a Aids, o tratamento deve ser iniciado rapidamente. Quanto mais cedo o paciente iniciar, o tratamento, maior será a possibilidade de diminuição da carga viral no organismo.

Ivoneide Lucena explicou que a sobrevida de um paciente com Aids já chega em média a 20 anos. "A tendência é a Aids se transformar em uma doença crônica", avaliou.

Ela informou que o início rápido do tratamento diminui também a chance de se contaminar outras pessoas com o vírus HIV, mesmo fazendo sexo sem o preservativo. "No entanto, a nossa orientação é que se use sempre o preservativo masculino ou feminino. Ele deve sempre estar presente em todas as relações sexuais", orientou.

Humanização

O Hospital Clementino Fraga, que é referência em atendimento aos pacientes soropositivos no Estado, tem um histórico de humanização e de luta contra o preconceito fruto da desinformação.

De acordo com Adriana Teixeira, diretora da unidade médica, o Clementino Fraga começou a atender pacientes com Aids em 1994. Nele, os casos de pacientes suspeitos são notificados, é feito atendimento e, após exames, os soropositivos passam a fazer parte dos dados da Gerência Operacional de DST/Aids da Secretaria de Saúde do Estado.

Além do internamento, o Clementino Fraga faz também atendimento ambulatorial, através do Hospital Dia (HD). O ambulatório atende pacientes que precisam de intervenções em ambiente hospitalar, mas por tempo limitado, ou seja, de duas até oito horas.

O hospital oferece também Assistência Domiciliar Terapêutica (ADT), um serviço de 'desospitalização' do paciente, em que uma equipe multidisciplinar acompanha o tratamento na residência dele.

O Clementino Fraga promove ainda, conforme Adriana, em parceria com algumas Organizações Não Governamentais (ONGs), encontros com pacientes, familiares, profissionais e pessoas interessadas em ajudar, através do 'Grupo de Autoajuda em Aids e Hanseníase'.

A instituição conta também com uma brinquedoteca para as crianças, que é utilizada como ferramenta para auxiliar no trabalho com crianças soropositivas, e possui um ambulatório destinado a receber travestis e transexuais interessados em mudança de sexo.

*Os nomes dos pacientes são fictícios e não correspondem à identificação real dos personagens entrevistados

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