Governo desestimula autoexame de mama

Governo prioriza mamografia e deixa de incentivar um dos métodos até há pouco tempo mais aconselhável para detectar câncer

A dona de casa Maria do Rosário Barbosa descobriu tumor com o autoexame, mas não a tempo de preservar uma mama
As estimativas de novos casos de câncer de mama assustam: 52.680 mulheres acometidas pela doença no Brasil em 2012 e 2013. Em Minas Gerais, serão 5.680 casos este ano e em 2014. No último dado informado pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca), morreram 12.705 pessoas no país em 2010. O crescimento dos números a cada ano levou o órgão do Ministério da Saúde a deixar de incentivar o autoexame, mote de várias campanhas no país desde a década de 1950.

A justificativa do Inca é de que a técnica de contato da mulher com o próprio corpo não foi capaz de levar ao diagnóstico precoce. Ao contrário, quando o nódulo é encontrado, já está em estágio avançado e muitas vezes sem chances de cura, o que faz da mamografia um recurso imprescindível. A dificuldade para o acesso ao equipamento está na rede pública de saúde. Para fazer a mamografia pelo Sistema Único de Saúde (SUS) a demora, em média, é de dois a três meses a partir da consulta com o ginecologista no posto de saúde.

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A mudança feita pelo Inca provoca polêmica entre o poder público, médicos e pacientes, mas o que todos concordam é que a mulher deve se cuidar. O autoexame da mama é uma forma técnica pela qual a mulher se examina. Tem dia certo para ser feito a cada mês, assim como posições e formas específicas.

A dona de casa Maria do Rosário Barbosa é um exemplo da polêmica. No início do ano passado ela descobriu que tinha um câncer, já que sempre apalpava os seios. Fez mamografia em janeiro de 2010 e estava tudo normal. No ano seguinte não fez o exame e, por isso, não soube que um tumor maligno se desenvolvia. Em dezembro de 2011, ela percebeu um pequeno caroço na mama esquerda que passava de 3cm e já afetava as axilas.

Correu para o médico e teve o diagnóstico. “Preferia ter descoberto antes, seria menos doloroso. Nunca achamos que vai acontecer com a gente, e olhe que eu era muito atenta a essa questão”, afirma. Hoje, aos 51 anos, ela tem apenas a mama direita e faz sessões de quimioterapia. Descobriu com o autoexame, mas não a tempo de preservar uma parte do corpo: “Acho que percebi porque tinha uma mama pequena. Quem tem os seios maiores dificilmente consegue identificar”.

Segundo informações na página do Inca na internet, o autoexame não contribuiu para a redução da mortalidade por câncer de mama e trouxe consequências negativas, como aumento do número de biópsias, falsa sensação de segurança nos exames falsamente negativos e impacto psicológico nos exames falsamente positivos.

O médico epidemiologista do Inca Arn Migowski explica que o autoexame é uma técnica específica com padrão, treinamento e difundida para as mulheres por meio de folhetos explicativos, com periodicidade definida. “Alguns estudos grandes mostraram que não tinha impacto na mortalidade. Hoje, recomenda-se que a mulher apalpe, que tenha consciência do seu corpo e observe alterações, mas faça a mamografia.”

Contato
O mastologista Carlos Henrique Menke, integrante da Sociedade Brasileira de Mastologia e médico do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, concluiu em 2010 o estudo “Autoexame ou autoengano?”. Segundo ele, apalpar a mama era até pouco tempo atrás um dos métodos mais aconselháveis para o diagnóstico precoce do câncer, desde a metade dos anos 1980, quando outros exames eram escassos. “Entramos na era da mamografia, que detecta tumores abaixo de 1cm”, explicou.

Mas ele pondera: “O contato, a preocupação da mulher com seu corpo é muito importante e não pode ser abandonado. Nós ainda estimulamos”. “Não diminuiu a mortalidade, mas existem áreas que são totalmente desassistidas. Nessas condições, o autoexame é muito válido, mesmo que não economize vidas, vai economizar mamas porque a realidade do Brasil é que os tumores que chegam aos centros médicos ainda são muito grandes”, disse.

O autoengano, explica ele, é que o autoexame não deve ser usado exclusivamente como diagnóstico. A estimativa no Brasil, segundo Menke, é de que, mesmo entre as mulheres treinadas para a técnica, 20% faziam corretamente para verificar a existência do nódulo. “Há um temor de encontrar o câncer e muitas não sabem interpretar o que estão apalpando.”


Estado de Minas

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